SEGUNDO ENCONTRO DA LECTIO DIVINA

Na noite de sábado, 24 de fevereiro de 2024 na Catedral da Diocese de Luziânia aconteceu o segundo encontro da Lectio Divina sob a condução do bispo Dom Waldemar Passini Dalbello.

Acompanhe aqui:

Lectio (Mc 9,2-10)

 

A transfiguração de Jesus diante dos três discípulos, Pedro, Tiago e João, sempre nos é narrada no segundo domingo da quaresma. A informação inicial é a de que Jesus levou consigo três dos doze discípulos e os fez subir a um lugar retirado, numa alta montanha, a sós (Mc 9,2). Sublinhemos “a sós”!

Quase no final do relato nos é dada uma notícia:

E, de repente, olhando ao redor, não viram mais ninguém a não ser Jesus com eles. (v. 8).

Quem mais se apresentou a esse encontro na montanha, para que o evangelista diga que não havia mais ninguém?

Algo muito especial, que aconteceu somente uma vez com Jesus, foi testemunhado pelos discípulos. Eles se sentiram profundamente marcados por essa experiência, a ponto de Pedro redigir em sua segunda carta a respeito de Jesus naquele momento:

Efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus pai, quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, nele está o meu agrado”. Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele no santo monte (2Pd 1,17-18).

Pedro apresenta seu testemunho sobre Jesus a partir do que lhes aconteceu naquele dia da transfiguração de Jesus. Após a subida, inicia-se um encontro que traz um acréscimo de luz, da luz que brilha em Jesus, diante dos três discípulos:

…e suas vestes tornaram-se resplandecentes, tão brancas como nenhuma lavadeira na terra poderia branqueá-las (v. 3).

Nesse acréscimo de luz, Pedro, Tiago e João reconhecem que Elias e Moisés estavam falando com Jesus. Atenção ao texto! Não nos é dito que Elias e Moisés apareceram a Jesus, mas aos três discípulos. E eles falavam com Jesus! (v. 4). A cena não é habitual, terrena, mas celestial, de luz incomum para nós.

E mais, no mistério desse encontro, desce uma nuvem, indicando a presença d’Aquele que ninguém jamais viu:

Desceu, então uma nuvem, que os cobriu com sua sombra, e da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai-o!” (v.7)

[…] do mesmo modo como Pedro testemunhou em sua segunda carta.

Fato é que após a exortação-mandamento que ouvem, da voz vinda da nuvem, a voz do Pai de Jesus, não é mais preciso acrescentar qualquer outra mensagem: “Escutai-o!”. Certamente o fato de Elias e Moisés falarem com Jesus, com tudo o que eles representam, é importante para poder escutar Jesus mais atentamente.

Concluindo a nossa leitura (lectio), primeiro passo da Lectio Divina, podemos reencontrar a orientação que Jesus dá aos três discípulos no final do relato:

Ao descerem da montanha, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, até quando o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos (v. 9).

E, de fato,

eles guardaram para si o que foi dito, mas discutiam entre si sobre o que significaria esse “ressuscitar dos mortos” (v.10).

 

Meditatio

Eles guardaram para si o que foi dito…

Portanto, não contaram a ninguém o que tinham visto sobre a montanha até a ressurreição do Filho do Homem dentre os mortos.

O que acontece quando guardamos uma experiência forte? – convivemos com ela, permitindo que ela se torne companheira íntima, dando-se a conhecer em profundidade. Esse mesmo silêncio, ao que parece, não foi imposto somente a Pedro, Tiago e João, mas também a Moisés e Elias, a todos os profetas do Antigo Testamento, aos livros da sabedoria de Israel. Eles não puderam falar a plenos pulmões daquilo que não testemunharam na história de Israel, e mesmo na história da humanidade

Profetas e sábios são peritos em vida, mas que é sempre vida que chega (conduz) à morte. Não podem falar ainda da morte que conduz à vida. Assim, nos caminhos da revelação divina, alcançamos o ponto mais alto, ao cume da montanha, quando Jesus, a ressurreição e a vida, “aprende” os gestos e sinais que apontam nas Escrituras (Moisés e Elias) para o caminho da morte que leva à vida. Depois da realização plena do que agora é insinuado tão claramente, com tanta luz, os discípulos-testemunhas, poderão anunciar. A Igreja, então, estará habilita a proclamar esse caminho de ressurreição e vida.

Por enquanto, era preciso aprender a humanidade de Jesus, e a voz do Pai:

“Escutai-o!”, diz a voz que vem da nuvem aos discípulos.

“Este é o meu Filho amado. Escutai-o!”

A presença de Moisés e Elias fala do poder de Deus, maior que a morte. Dois episódios marcantes na vida deles trazem sinais de ressurreição, ainda que Moisés (e o Pentateuco) e Elias (com a tradição profética) também apresentem muitas vezes a desobediência e a morte na experiência do Povo de Deus.

De Moisés, recebemos o testemunho da páscoa de todo um povo, que, saindo da terra da escravidão e do sofrimento, parte em busca da vida e atravessa o mar Vermelho a pé enxuto:

Ordena aos israelitas que se ponham em marcha. Quanto a ti, ergue o teu cajado, estende tua mão sobre o mar e divide-o, para que os israelitas passem pelo meio do mar, em seco (Ex 14,16).

Naquele dia o Senhor salvou Israel da mão dos egípcios, e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar. Israel viu a mão poderosa que o Senhor pôs em ação contra o Egito. O povo temeu ao Senhor, e creu no Senhor e em Moisés, seu servo (Ex 14,30-31).

Mas ainda havia uma terra a conquistar e um caminho a ser percorrido, marcado também pela desobediência, pela murmuração e a morte…

De Elias, temos um sinal mais evidente relacionado à ressurreição pessoal, quando cai doente o filho da mulher que o acolheu num tempo de seca prolongada e morte, dando-lhe de comer. Diz o texto de 1Rs 17,17:

Tão grave era seu estado, que já não respirava mais. […]

Elias respondeu-lhe: “Dá-me teu filho!” Tomando o menino do colo dela, levou-o ao quarto de cima, onde ele morava, e deitou o menino sobre o leito. Então, clamou ao Senhor: “Senhor meu Deus, queres afligir até a viúva que me hospeda, matando-lhe o filho?” Depois, por três vezes, estendeu-se sobre o menino, e suplicou ao Senhor: “Senhor meu Deus, rogo-te, faze a alma deste menino voltar às suas entranhas”. O Senhor ouviu a voz de Elias: a alma do menino voltou às suas entranhas, e ele reviveu. Elias tomou o menino, desceu com ele do quarto de cima para o interior da casa, e o entregou à sua mãe, dizendo: “Vê, teu filho está vivo” (1Rs 17,19-23).

 

Jesus fará uma experiência diversa, passando pelas “águas” da morte, indo além da experiência da passagem pelo mar. A páscoa dos hebreus se torna sinal da Páscoa de Jesus e nossa Páscoa!

Jesus não será revivificado, como o filho da viúva de Sarepta, mas seu corpo e alma humanos, mergulhados na ruptura da morte, voltarão à unidade em sua Pessoa, vencendo definitivamente a morte, ressuscitado para a Eternidade. Ele vive!

A comunhão com Moisés e Elias indica a continuidade de um caminho de vida e salvação na pessoa de Jesus. Mas, suas vestes resplandecentes e a voz que vem da nuvem, designando-o “Filho amado”, anunciam uma presença maior. Ele é o caminho de uma Vida que não poderá ser obscurecida pelas trevas, nem mesmo as mais densas trevas da morte.

Assim, a fé em Jesus deve chegar à fé em Jesus Ressuscitado! E, uma vez ressuscitado dentre os mortos, transformará a morte em caminho para a VIDA.

Se assim aceitarmos o anúncio da ressurreição do Senhor, anúncio a ser proclamado na Páscoa que se aproxima, também receberemos um chamado forte, do qual não poderemos nos esquivar: escolher o caminho que leva à verdadeira vida.

“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas que perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará” (Mc 8,34b-35).

Somente crendo na ressurreição, em Jesus Ressuscitado, o discípulo será capaz de enfrentar livre e generosamente a entrega da vida por Jesus e seu Evangelho. Essa entrega se tornará testemunho, será missão.

 

Oratio

(Salmo)

A graça da fé é o ponto de partida para nossa vida de discípulos de Jesus. Peçamos a Ele, a força de crer e de traduzirmos nossa fé em um modo de viver:

  1. Que os sinais de ressurreição nos conduzam à fé no Ressuscitado, deixando-nos conduzir por sua palavra, por suas promessas de vida, rezemos:

R.: Ouvi-nos, Senhor Jesus!

  1. Pelos irmãos e irmãs catecúmenos, para que seus olhos e corações sejam sempre mais iluminados pela luz de Cristo, libertos dos enganos e das trevas do pecado, rezemos:

R.: Ouvi-nos, Senhor Jesus!

  1. Para que a escuta do Evangelho nos permita viver uma experiência mais profunda de amor a Deus e aos irmãos, superando a superficialidade dos modismos e o fechamento das ideologias, rezemos:

R.: Ouvi-nos, Senhor Jesus!

  1. Diante dos conflitos e guerras no mundo, para que nos disponhamos a ser verdadeiros artesãos da paz nos ambientes em que vivemos, rezemos:

R.: Ouvi-nos, Senhor Jesus!

  1. Pela paz no mundo, rezemos:

 

Contemplatio

(Acolhida, no silêncio do coração, daquela comunicação de Deus a você durante o encontro com a Palavra).

 

Actio

Aproximar-se de quem faz a experiência da dor e da morte para fazer-lhe companhia, estender-lhe as duas mãos. Superar a indiferença!

 

Contato